Saiba como economizar na oficina e fugir dos serviços desnecessários - prática de fazer clientes ter gastos extras na hora da revisão ganhou até nome
Já pensou gastar dinheiro sem necessidade com a manutenção do seu carro? Isso pode acontecer na oficina mecânica mais próxima a você. A prática possui até um nome: empurroterapia, que nada mais é do que coagir o cliente a consumir serviços irregulares e desnecessários. Troca de peças que ainda têm vida útil ou serviços preventivos que não existem são alguns exemplos desses golpes.
A prática não só traz um gasto a mais para o consumidor como também prejudica o meio-ambiente. “Ao trocar peças automotivas antes da hora, aumenta-se a necessidade de produção desses componentes, e consequentemente os descartes dos resíduos produzidos nas fábricas e oficinas”, conta Danilo da Costa Ribeiro, coordenador do centro de tecnologia, treinamento e inovação da DPaschoal, rede de centros automotivos.
Acompanhar os procedimentos de substituição de perto, pedir comprovações dos estados das peças e ir em oficinas de confiança e concessionárias são ações que podem evitar esses golpes. “O cliente tem que estar realmente preocupado com a manutenção do veículo, principalmente com os pontos ligados a segurança e cuidados preventivos”, afirma Ricardo Dilser, diretor de comunicação da Stellantis.
O executivo explica que “não adianta trocar as velas do motor, por exemplo, antes da recomendação do fabricante". Porém, também avisa: " é imprescindível que as velas sejam trocadas no momento correto, caso contrário a conta chegará muito maior em um consumo de combustível, perda de potência ou até no comprometimento de todo o sistema de ignição do motor.”
Mas, como ter certeza que a hora certa de trocar a peça chegou? Dilser afirma que consultar as recomendações do fabricante é a melhor saída. “O manual do proprietário é um grande aliado, junto às próprias concessionárias que têm todo o plano de manutenção esclarecido, com mão de obra especializada e ferramentas específicas”.
A oficina sempre deve informar antecipadamente sobre tudo o que será feito no veículo, e o proprietário pode avaliar a necessidade dos serviços. Além disso, pedir para o mecânico comparar uma peça nova com uma velha pode tirar a dúvida de muitos clientes, já que em alguns componentes é possível perceber visualmente se a vida-útil se esgotou ou não. Conheça alguns serviços desnecessários que podem ser empurrados aos proprietários:
Limpeza preventiva de bicos injetores
“É um serviço sem necessidade”, afirma Da Costa. Os bicos injetores são responsáveis por pulverizar o combustível na câmara de combustão do motor. O especialista explica que atualmente, com a evolução dos veículos, existem filtros que não deixam o combustível chegar no bico e acumular sujeira.
“Tem histórico de veículos que rodaram mais 100 mil km sem sequer uma limpeza de bico”. Da Costa conta que isso é resultado do bom cuidado com o carro. Trocar os filtros e utilizar combustível de qualidade ajudam na saúde destes componentes.
E se houver algum problema com o bico injetor o motorista logo irá perceber, por meio de uma luz-espia no painel e/ou falhas nas acelerações e retomadas.
Cristalização da pintura
“Não é um item essencial para segurança ou conforto do carro, é mais uma questão estética”, conta Da Costa. Ele explica que pode se fazer esse serviço para evitar um desgaste da pintura a longo prazo, mas hoje, com a tecnologia que há no processo de fabricação, todo carro tem um tratamento para resistir a insolação, maresias e intempéries do dia a dia.
Esse serviço só se torna necessário se houver uma motivação por parte do cliente e não do vendedor, como para valorizar o veículo na hora da revenda.
Troca de catalisador
Transformar gases poluentes liberados pelos motores, como CO, NOx e CxHy, em compostos menos nocivos como CO², H²0 E N² é a função do catalisador. Para que o funcionamento da peça continue fazendo essa transformação a substituição não é um dos critérios mais importantes e pode ser mais um daqueles serviços empurrados pelas oficinas mecânicas.
“O catalisador tem garantia de mais ou menos uns 5 anos pelo fabricante. A durabilidade é quase sempre o dobro da garantia. Ou seja, um catalisador chega durar um pouco mais de 10 anos”, afirma da Costa. A troca da peça é rara e somente necessária se houver algum problema de funcionamento provocado por combustível adulterado ou impacto no próprio componente.
Troca de amortecedor
Limitar o curso de atuação das molas e balancear as oscilações do sistema de suspensão são funções dos amortecedores. Sua vida útil não tem um prazo exato, sendo que a a própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma que o componente original dura em média 50 mil km “em condições normais” e 25 mil km “em terrenos muito acidentados”, e que se deve consultar a fabricante. Ou seja, além desses critérios a análise da peça é algo importante.
“Já pegamos casos com amortecedor com 80 mil km com bom desempenho e amortecedores com 25 mil km com problema”, explica da Costa. E se o amortecedor precisar ser trocado o motorista irá notar rapidamente por meio de sinais como perda de estabilidade em curvas, barulho, vazamento de óleo no amortecedor e desgaste acentuado e irregular dos pneus.
Lubrificação das dobradiças portas
“É o mesmo princípio da proteção de pintura, se você não fica atento a esses detalhes do carro você acaba tendo um desgaste mais acentuado. Só que também é um componente do veículo que não compromete a segurança”, afirma da Costa. Ele diz que como não é um serviço obrigatório para segurança é possível se programar para realizá-lo no momento mais adequado para o cliente.
Descarbonização do Motor
“Não há uma regra para realizar a descarbonização do motor, até porque esse serviço depende muito mais da maneira e do cuidado que o motorista tem com o carro do que do período de rodagem”, explica da Costa. Se o proprietário respeita a manutenção do carro, utiliza combustível de boa qualidade e troca o óleo dentro do intervalo indicado pela fabricante, a descarbonização não será necessária.
Este serviço também só precisa ser feito caso o veículo apresente falhas de funcionamento ou consumo excessivo de combustível ou óleo.
Higienização do ar-condicionado com aromatização
O cheirinho bom no carro é muito agradável, mas não quer dizer que o veículo está limpo. Isso porque, a higienização do ar-condicionado deve ser feita utilizando produtos homologados e aplicando o processo correspondente ao produto. "A aplicação de aromatizantes é supérflua", afirma a Stellantis.
Ou seja, se for da vontade do cliente o serviço pode ser aplicado, mas não é necessário, muito menos obrigatório.
Fonte: G1